sábado, 27 de julho de 2013

Não traz café, traz amor.



Trata-se de um vício, trata-se de um negrinho quente, doce ou amargo, com espuma ou simples.
-Enche meu copo, traz alguns migalhos de pão para acompanhar, não necessito de manteiga e muito menos de biscoitos formosos e cheios de glacê, daquele jeito de sempre.'
E se assim fosse todas as manhãs ele estaria contente..
"Vamos rapaz, levante-se e desligue esse rádio velho, pare de remoer o passado e pague as contas de luz que já estão atrasadas.
Não se pode viver de café. Café de manhã, café a tarde depois de um prato de feijoada, café depois de um cigarro queimado até o filtro.
Pede um copo de amor, não seja exigente com você, não causa dependência de cafeína a seu estômago e de nicotina a seus pulmões, desande, conte moedas para comprar rosas, derrube os vasos escalando o muro, aprenda uma música nova, faça aulas de violão, leia um poema e não pare de ler até decora-lo.
Esqueça esse café, ele vai esfriar, café requentado não tem o mesmo sabor, deite-se com uma mulher, ame uma mulher, descubra quais roupas a deixam mais sexy e com quantos anos ela quer ser mãe, elogie seu corte de cabelo e lembre-se de dizer que as unhas estão impecáveis... Olhe bem, a vida lá fora, olhe além da vidraça da cafeteria, olhe as crianças no parque, olhe o pipoqueiro aposentado que trabalha por paixão. Pare, respire, se reconstrua, se reinvente, recomece quantas vezes forem precisas... "
Aquietou-se, as lágrimas escorriam pelo rosto gasto e pálido, no canto da boca levou um palito de dentes que a pouco usara para se servir de azeitonas pretas.
-Não posso - sussurrou - Não consigo! - olhava para o lado de fora.
" Covarde, covarde..." A voz sooava estridente em seus pensamentos "COVARDE".
Uma garçonete esbarrou em seu copo desastradamente e derrubou o café sobre mesa com resto de açúcar.
- Senhor Alberto, me desculpe, não foi a intenção... Vou pegar outro copo. - Ajeitou os cabelos, tão bagunçado quanto sua vida, sorriu com os dentes tortos e amarelos, dirigiu-se ao balcão.
- Sônia, outro café.. Daquele jeito pro Senhor Alberto e rápido!' - Olhou na direção da mesa de Alberto e notou que ele não estava mais ali, foi até a mesa, encontrou um bilhete junto a uma nota de R$10,00 meio amassada.
' Querida, fique com o troco.' - A garçonete olhou intrigada para fora da cafeteria e viu Alberto sentado em um banco, jogava pipoca aos pombos e sorria sozinho.
 Não entendendo a situação saiu até a porta e gritou:
- Seu Alberto, seu café esta pronto.
- Não me traga café, me traga amor mulher, me traga amor!' - Sorriu e continou a alimentar os pombos.

domingo, 23 de setembro de 2012

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...Era meu último cigarro, era minha última chance.
   Eu havia lido no jornal que as torres gêmeas já não existiam mais, que ambas haviam sido vítimas de um ataque terrorista, que haviam se desfeito juntas!
  Bem, sei que a notícia é antiga, já se passaram 11 anos. Mas para tudo existe uma explicação, o motivo por eu lembrar desse acontecimento é a minha admiração pelo amor.
 Será que só eu consigo enchergar amor nisso?! Doentio, eu sei, mas só consegui pensar em duas almas se acabando ao mesmo tempo, almas gêmeas desmoronando juntas, pois uma sem a outra seria algo pela metade, não seria mais aquele espetáculo visto a olho nú.
  Me levantei e caminhei por algumas horas, mesmo a metros de distância eu podia sentir seu cheiro doce no vento que vinha da direção do seu apartamento.
  Seu cabelo no meu corpo na hora do nosso sexo cheirava a Jasmim e amor e, por incrível que pareça, nem um banho de Sal grosso era capaz de tirar esse cheiro de mim.
  Eu podia voltar embora e passar em algum bar qualquer, comprar mais um maço de cigarros e queimá-los sem procurar por ela. Mas não conseguia, nem que tentasse, não conseguia me esquecer de seu gosto.
 Eu notei que alguém apareceu na sacada, me escondi atrás do poste. Era ela, como podia alguém fazer com que meu coração batesse tão rápido? Eu sentia meu corpo tremer inteiro, como se nevasse e eu estivesse nú.
 Eu não queria que ela me visse, eu só queria continuar sentindo seu cheiro, só queria que o vento trouxesse a sensação de seus cabelos em mim.
Ela ficou ali, por alguma horas.
Será que ela me sentia também?
Não me importava mais, eu não tinha cigarros, nem passagem de volta para casa. No bolso só haviam algumas balas de hortelã e moedas antigas.
Minhas solas estavam gastas, meu cabelo desarrumado e meu coração nem se fale!
Me sentei na calçada, ainda longe de seus olhos castanhos, e comecei a me interrogar...
Certo de que Shakespeare, ao escrever suas obras, usava, talvez, acontecimentos pequenos ou grandes de sua vida, volto a dizer e dar ênfase, 'Talvez'.
Mas eu era fã de Romeu.
Romeu, meu caro Romeu, de onde tirou tanta coragem para escalar o muro até a janela de sua amada? Você não ganhou só um beijo naquela noite, você ganhou o coração dela e alguns calos na mão. Poderia me dizer como controlou os batimentos cardíacos e a transpiração nas mãos para subir? Por que acredito que você estava apaixonado, como eu estou, então as sensações deveriam ser as mesmas. Eu só precisava que em sua história existisse um depoimento de como foi fazer isso, para que eu pudesse ser tão bom e corajoso como você;
Pensei por alguns minutos:
-Vou gritar.. Julieta, não sou muito bom em escalar muros e minhas pernas estão trêmulas de mais para tentar chegar até aí, mas você poderia me presentear com seu coração e um bom café? Pois está bem frio aqui fora;
Ela com certeza me acharia um tolo, sorriria daquele jeito que faz meu rosto corar e me deixaria entrar. O único problema disso tudo é que eu não queria ficar só uma noite, eu queria ficar a vida inteira, eu queria ser sua alma gêmea, e viver com ela por toda a vida, até que por fim, algum ataque terrorista nos derrubasse, nos desmontasse. E para ser bem sincero, isso não me assustava, com tanto que desmoronasse-mos juntos eu aceitaria fácil viver e morrer por ela.



domingo, 4 de março de 2012

O relógio parou, deve ser amor.


Ela sentia medo, essa era a explicação para toda a falta de concentração.
Eu senti que seu coração estava apertado. Ali, sentada no sofá, ela procurava explicar todos os erros, os sonhos, as vontades, as cores das paredes, os livros não lidos e o amor abandonado.
Eu, por fim, desisti de ouvi-la, tudo parecia estar fora de ordem, fora de sintonia.
Antes que eu pudesse me levantar seus escuros olhos se encheram de lágrimas e suas mãos evitavam que as mesmas escorregassem por todo seu delicado rosto.
Eu estava ali, bem em frente ao amor escondido, ao amor proíbido.
Ela, insegura, queria mostrar que me amava e que as cartas que escreveu eram sinceras.
O relógio parecia parado. Ela tinha me pedido 60 segundos, uma confissão de duração tão curta teria algum efeito? Os mais sensatos e racionais saberiam que isso é insignificante, que ninguém consegue mudar um passado ou construir um futuro com apenas 60 segundos. Mas os loucos considerariam isso uma eternidade, o suficiente para mudar uma vida inteira, mudar pensamentos e dispertar sentimentos adormecidos.
Ela me olhou, olhou de novo e sorriu tentando esconder todo o nervosismo e o mal-estar.
Eu refleti e senti cada palavra dita.
Me calei sim, mas amei também.
Meu coração estava tão cheio de armaduras, e eu tão segura de minhas escolhas que me vi de pernas bambas quando senti o cheiro do seu cabelo.
O coração engana mesmo.
Olhei para o relógio e ele marcava a mesma hora.
Consequência das pilhas gastas? Seria os ponteiros travados? Seria a poeira?
Foram os 60 segundoas mais longos da minha vida; Então descubro que eu estava longe de ser racional, sensata.
Amor louco, louco amor.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bailarina e Soldado de Chumbo ♥


Com as malas já arrumadas ela fazia sinal com a mão. Se despedia do leiteiro insegura da decisão tomada.
Sentia seu coração acelerado, mas não era em ritmo de carnaval, era como se estivesse velando seu próprio corpo, em volta as velas, flores e alguém dizendo com certa dor que a saudade ja era grande.
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Do outro lado da cidade, em uma lanchonete de esquina, estava eu, com a única foto dela que possuía. Minha pupíla dilatada delatando a escolha e deletando, com certa repulsa, o medo.
Ensaiei, por várias vezes, tomar aquele maldito café amargo, que por sinal já estava tão sem vida quanto as aves que voavam, rumo ao horizonte, alegando que logo o céu caíria em prantos pela partida da minha mulher amada.
Poderia eu, desejar algo que não fosse seus beijos?
Poderia eu, desejar algo que não fosse suas extremidades, intimidades...suas verdades?
Deixei o café frio e umas notas de gorjeta e saí.
Quando passei pela porta o sino tocou, revelando que ali partia alguém decidido, apaixonado, impulsivo, disposto ao sacrifício do seu orgulho.
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Ela sentia que o vento não soprava a seu favor, logo apareceria as primeiras gotas vindas do céu, já que as de seus olhos caíam descontroladamente a um certo tempo.
"Deus, faça o melhor por mim!" - Sua fé movia montanhas, encorajava os fracos e fazia dela uma mulher firme.
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No táxi, eu mascava um chiclete  já sem gosto, que achei em meu bolso junto com algumas moedas antigas e bilhetes do metrô.
Meus olhos percorriam e secavam toda a cidade, na ânsia de um breve e radical reencontro.
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O ônibus se preparava para dar um ponto final para todo o sofrimento.
Ainda com o coração apertado ela subiu o 1° degrau e antes que pudesse dar o 2° passo alguém segurou sua mão e falou alto:
" Por favor Bailarina, não abandone seu Soldado de Chumbo.
   Não teria graça nenhuma venerar sua caixinha de música sem você pra dançar nela."

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Renata.

Deitava-se sobre aquelas mãos grandes e calejadas. Sentia que as lágrimas escorriam contornando todo seu rosto ainda corado como uma maçã madura, lábios grandes descascados, as meninas dos olhos mortas e sem cor. Ela sentia que precisava de ajuda, sentia que aquela vida não era a dela, queria ainda correr atrás de borboletas e ser dona de casa, queria ver filmes e frequentar a casa da avó.
E agora? Esta tudo perdido? Errei no começo e não posso corrigir o final? - Com os longos fios de cabelo escondia todo o medo, e de novo renascia mulher.
Ele apertava entre os lábios finos um cigarro já apagado, acariciava seu corpo frágil, nú, tão puro e já tão cheio de verdades e pecados, ele a olhava dos pés a cabeça, colocava a mão entre suas pernas e sorria maliciosamente.
Todos os dias no mesmo horário ele chegava, um carro de marca pouco conhecida, placa amarelada e bancos gastos, buzinava e ela ja sabia o que tinha de fazer. Tomava seu banho de coragem e sempre deixava o chuveiro na agua fria. Os papéis de contas vencidas em cima da mesa ja era tantos que não se sabia ao certo qual era as de maior prioridade. O irmão mais novo brincava com um pedaço de madeira, chupeta azul, da cor do olhos lacrimosos da mãe que ficava por horas jogada no sofá da sala. As mãos trêmulas era a mesma que um dia eram fortes e trabalhavam sem parar. Os remédios de tarja preta cobriam um jornal que noticiava as ultimas ocorrências de estupros e prostituição infantil. Com a mochila nas costas, Renata pedia a benção da mãe para mais um dia de escuridão.
A verdade era que sua mãe acreditava que Renata ia na escola e depois trabalhava em um mercadinho, tinha orgulho da filha que fazia o papel do homem da casa, dando sustento e pagando as milhões de dívidas.....
Seu dia era longo e a noite tão curta.
Os sonhos estavam no mesmo lugar, alguns em rascunhos e outros dentro do seu Baú de brinquedos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

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As luzes piscavam, a fila virava a esquina, palhaços e trapezistas faziam suas maluquices na tentiva de prender as pessoas em uma cadeia dos sonhos.
O segurança olhava rosto por rosto e identificava se era o mesmo do documento.
A ansiedade e medo tomava conta daqueles corpos que não paravam um minuto, dançavam na batida da música eletrônica que ecoava pelas portar abertas.
La dentro parecia que o mundo era outro, risadas altas e bebidas quentes, conversas ao pé do ouvido e sexo misturado, ou melhor , igual.
O som era alto, ensurdecedor e anestesiante. Ali não existia amor, ali existia paixão. Os casamentos e compromissos era deixados da lado de fora; Executivos, advogados, empresários, enfermeiras, costureiras, pipoqueiros... Nada existia, nada se diferenciava, todos gastavam seu suor para refrescar-se e libertar-se dos medos e inseguranças.
Nas mesas via-se que homens conversavam próximos demais, olhares maliciosos, mãos na cintura, bocas as vezes juntas e as vezes distantes, mas sempre prontas para se unirem.
Mãos delicadas que seguravam outras, unhas vermelhas que envolviam os cabelos longos e escuros, seios, braços, dedos, tudo em uma sintonia só.
La dentro tudo era visto, tudo bem aceito e respeitado. Banheiros lotados de homens e mulheres, não existia nada para separar os dois mundos, juntava tudo em uma coisa só;
De manhã era a hora em que tudo tinha que voltar ao normal, as responsabilidades, a postura, o relacinamento conturbado e forçado.
O sonho só acabava quando a única luz que tomava conta do salão era a luz do dia.
La fora os palhaços e trapezistas ja haviam partido, mas na promessa de voltar quando a escuridão os chamassem.
A vida e os sonhos só começavam quando todas as outas coisas dormiam.
As cortinas se abriam e a cadeia dos sonhos já estava pronta para prender muitas outras almas, ou liberta-las de uma vez.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Só uma dose

De olhos fechados eu ainda sentia o calor dos braços e do abraço dado em meio a tanto conflito de sentimentos. Um gosto de desejo tomava conta de meus lábios pequenos e vermelhos feito brasa. Não se sabia ao certo o que havia acontecido aquela noite, se sabia que era de um espetáculo de fogos de artifício. A troca de olhar pelo corredor da empresa em que trabalhavam era inevitável. Ela sentia medo e vontade, e eu? Sentia vontade e vontade. O cheiro da pele, o toque das mãos. Ah, aquelas mãos com quem flertei por muitas horas da noite enquanto ela conduzia o copo de bebida até seus lábios duvidosos e insaciáveis. Eu a olhava dos pés a cabeça, sentia antes de toca-la, ouvia sua voz que acelerava meu coração. Me perguntei por horas o que era isso, carnal ou sentimental? E pra ser bem sincera, ainda nem sei ao certo, só sei que aquela noite ouve um grande estouro dentro de mim, dentro dela, dentro de nós.